VITÓRIA DA LITERATURA NO ESPÍRITO SANTO
quinta-feira, junho 20, 2019 José Arrabal 9 Comments Category :
Estou ciente de que, no Brasil, o mais importante evento cultural deste primeiro semestre de 2019 foi a 6ª Feira Literária Capixaba acontecida desde 22 a 26 de maio último, em Vitória, desta vez homenageando a educadora Judith Leão Castello Branco, primeira mulher a se eleger para a Assembléia Legislativa no estado, combativa defensora do ensino público e gratuito, fundadora da Academia Feminina Espírito-Santense de Letras (AFESL).
Foram precisamente cinco dias de intensos encontros com a inteligência, a favor da liberdade de pensamento, da defesa do ensino público e gratuito, dos direitos humanos e da autonomia crítica do magistério, reunidos no campus da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
Lá estiveram presentes escritores/as de diversos municípios do estado e de outros estados do país, sob a liderança harmoniosa dos membros da Academia Espírito-Santense de Letras (AEL), da Academia Feminina Espírito-Santense de Letras (AFESL) e do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo (IHGES).
Capixaba de nascimento – nasci na cidade de Mimoso do Sul, no sul do estado, vivo hoje em São Paulo -, então escritor convidado a participar desta 6ª Flic-ES, raras vezes em minha vida tive a oportunidade de ver, assistir e me somar a tanta vibração cultural acontecendo em tão poucos dias e com tão acentuada fraternidade se manifestando não apenas a propósito de questões literárias e mostras de livros, trocas de vivências entre escritores/as e leitores/as, mas também às voltas com outras expressões artísticas e manifestações da cultura popular.
O propósito básico da 6ª Flic-ES – no dizer de sua Diretora Geral – a Professora Dra. e Escritora Renata Bomfim – sempre foi tornar-se “um espaço para as múltiplas vozes, um canal que se propõe a resgatar e proporcionar conhecimentos sobre a identidade e a diversidade cultural capixaba: da panela de barro à casaca, do congo ao rap, do rap ao slam, dos direitos da mulher, passando pelos direitos dos negros e índios”...
...e foi o que aconteceu nesses cinco dias da Feira Literária Capixaba, pois – vale frisar - raras vezes em minha vida estive, em tão poucos dias, convivendo com tantos escritores e escritoras ao mesmo tempo com músicos, cineastas, artistas plásticos, fotógrafos, atores, dançarinos, gente de circo, grupos folclóricos e artesãos, no decorrer das apresentações de seus trabalhos para todo um vasto público não menos diversificado.
Nas contas que fiz durante os cinco dias da 6ª Flic-ES aconteceram 15 mesas redondas de debates dos mais variados temas da cultura nacional, oito apresentações de vídeos produzidos por cineastas locais, onze palestras, 52 escritores autografando os seus mais recentes livros e participando de encontros com o público leitor – de poesia, prosa e ensaios acadêmicos – em animados debates, também em meio a permanentes oficinas artísticas, workshops, leituras de poemas, de contos, de histórias para crianças e peças de teatro, concursos de poesia e crônicas, shows e saraus.
Um mundo de atividades sem parar desde a manhã até o encerrar diário dos eventos da feira altas horas de noite. Atividades culturais constantes devidamente reconhecidas e valorizadas na brilhante palestra do Presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), o escritor Marco Lucchesi, presente na 6ª Flic-ES.
Findados os cinco dias desse abençoado conjunto de acontecimentos culturais trouxe comigo para São Paulo, além da satisfação de meus encontros com antigos amigos capixabas, também a alegria de conhecer novos amigos, tantos escritores/as conterrâneos/as sempre cordiais comigo.
Deles ganhei 35 novas obras de suas autorias – romances, novelas, contos, ensaios, livros de fotografia e tudo mais – reafirmando a minha confiança na importância literária de meu estado natal, onde em cada município – no dizer de meu pai para mim quando então criança – “há sempre um poeta, um escritor, um contador de histórias, um pesquisador das origens municipais, um folclorista, mais alguns músicos, cantores, gente assim, porque aqui, meu filho, o espírito é santo”...
...dizia-me e não mentia, sendo ele, além de médico em Mimoso do Sul, também poeta, dramaturgo, romancista, ator e animador cultural na cidade.
Foi o que foi e foi o que meu pai me ensinou de minha condição natal de espírito-santense, o que me fez escritor. E foi o que mais apreendi, ao participar da 6ª Feira Literária, em Vitória, com minha viva emoção de capixaba convidado ao evento.
Situação plena e feliz que reconheci, no domingo de encerramento da 6ª Flic-ES, em conversa com sua Presidenta de Honra, a eminente escritora e Professora Emérita da UFES, ilustre amiga, Dra. Ester Abreu:
- Vim à feira para ministrar palestras e apresentar meus livros – disse a ela. - Retorno a São Paulo certamente tendo aprendido mais aqui do que provavelmente ensinei a quem me ouviu nas vezes em que falei para o público da feira. Melhor que seja assim e que me convidem mais vezes, pois mais vezes virei, muito grato!
Fiquem pois atentos: em 2021 teremos mais uma Feira Literária Capixaba. Não faltem a ela. Venham sem falta.
Que venham todos e que assim seja.
Assim será!