Harmony Clean Flat Responsive WordPress Blog Theme

LITERATURA E EDUCAÇÃO

quinta-feira, junho 06, 2019 José Arrabal 0 Comments Category :


Desde o nascimento qualquer ser humano o que mais faz para sobreviver é respirar e
ler. De imediato, a cada segundo respira e assegura a vida. Também lê com os cinco
sentidos. Com o tato lê a aspereza ou a suavidade das coisas. Com o paladar, lê o
gosto. Com o olfato, os odores. Com a audição, os sons. E com os olhos lê as
mensagens das formas, os registros da história natural e social.

A sobrevivência humana coletiva depende de sua leitura do real e do conhecimento
que se alcança com os sentidos. É preciso saber ler para fazer perguntas e encontrar
respostas. Somos o que lemos e tudo é um livro para a nossa capacidade de leitura. A
somatória das leituras do livro da existência registrada na memória chama-se
experiência de vida. Enfim, sapiência.

Desde aí, em auxílio à memória humana, foram inventados sinais – desenhos,
hieróglifos, ideogramas, mais os dígitos tidos por letras e números – que concederam
à humanidade o seu processo civilizatório.
A expressão mais própria desses registros em textos reside na arte da Literatura,
onde se encontra aprimorado o uso dos sons e dos sentidos verbais. A bem dizer
trata-se de arte que, mesmo antes do registro em textos, já existia em seu modelo oral
transmitindo a experiência humana a favor da preservação da vida.

O contador de histórias tribal e o poeta homérico foram os educadores de suas
épocas. Comunicaram a sapiência de então através do mais precioso uso estético da
língua e da linguagem. Literatura e Educação sempre caminharam juntas no
processo civilizatório.

É barbárie redutora – contemporânea, inclusive - entender que o convívio educador
cotidiano com a Literatura se restringe ao aprimoramento de dado idioma falado e
escrito, simplória compreensão de um ensino voltado à formação de mão-de-obra
para o mercado de trabalho, modelo de educação que se opõe a um sentido
pedagógico bem mais conseqüente que é a busca da sabedoria a favor de um mundo
fraterno, solidário e pacífico.

O que melhor se aprende com a Literatura é saber viver, aprimorar a arte da vida no
interior da existência, conhecer a vida através da convivência emocionada com as
histórias das personagens em seus enredos, trajetórias de um conhecimento que
sensibiliza o leitor e no leitor se acentua como experiência prazerosa.

A Literatura, em proporção direta à sua qualidade artística, por suas tramas e pelo
prazer do belo no texto, multiplica o sabor dos saberes, redimensiona o real, instaura
horizontes variados, fermenta sentidos renovados e efetiva liberdades na
aprendizagem que fornece ao leitor.

É sabido que tiranos odeiam obras literárias, perseguem escritores, censuram
leituras. Por sua vez, mesmo sociedades ditas democráticas costumam emparedar o
sentido da Literatura numa espécie de lugar menor para a vida, concedem à arte
literária função restrita ao aprimoramento do uso do idioma, quando bem mais
podem nos favorecer a prosa de ficção, a dramaturgia e a poesia.

Uma educação para a liberdade, para o conhecimento da arte de viver, enfim, para a
felicidade social, deseja a presença da Literatura nos mais diversos percursos
didáticos. Obras da arte literária invariavelmente têm potencialidade para aprimorar
os saberes no ensino das ditas disciplinas exatas, biológicas ou humanas, alargam suas
possibilidades a favor de dias melhores para a humanidade.

Não em vão os mais sofisticados matemáticos, os mais criativos biólogos e os mais
inovadores filósofos foram e são freqüentes leitores de Literatura. Sempre
encontramos, em suas obras específicas, valiosas referências às obras literárias, o que
leva à certeza de que melhores educadores são os que encaminham seus alunos pelos
roteiros da Literatura na aprendizagem dos mais variados conteúdos.

Romances, novelas, contos, crônicas, peças para o teatro e poesias sempre dialogam
de modo emocionado e feliz com diversos ramos do conhecimento. Fazem o leitor
aplicado amar bem mais o conhecimento e a relacioná-lo com as contradições sociais,
pois expressam as mais intensas preocupações humanistas. Enfim, conduzem os
educandos à mais própria sapiência ética diante do saber.

São numerosos os exemplos de obras literárias que somam nessa direção.
A Grécia Clássica está intensa nos poemas de Homero e nas tragédias gregas. 
Melhor compreende as grandezas e os limites da revolução russa quem lê as poesias 
de Vladimir Maiakovski. Mais se associa à Matemática quem tem em mãos contos e
romances de Malba Tahan. Mais se apaixona pela Ciência quem lê livros de Júlio Verne.

Não há melhor cartografia critica para visualizar o Brasil do século XIX do que as
histórias de Machado de Assis. Já a história do Brasil contemporâneo vibra nos
romances de Graciliano, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Guimarães Rosa, 
Antônio Callado e no “Cidade de Deus”, de Paulo Lins. E estes são apenas alguns exemplos entre outros.

Que os educadores de nossos dias lancem mão da Literatura a favor de uma educação
para a felicidade do mundo de seus alunos, aprendizagem do que fomos, somos 
realmente precisamos ser para bem viver em sociedade.

Fraterno abraço,
José Arrabal

(*) Texto também publicado no livro de contos e crônicas “A Chave e Além da Chave” – José Arrabal/Editora
Paulinas.

0 comentários